É maldita e me dita
Cris Sousil 09.04.96
Minha fome maldita
me dita:
reger orquestras de anjos,
dar voz para o silêncio cantar,
ondas do mar em meu corpo,
fogo nos lábios, queimar.
Minha fome maldita
me dita:
abrigo meio à tua tempestade,
refletir o céu em meu olhar,
número acrescentado à tua idade,
brisa meio teu fogo solar.
Essa fome maldita
me dita:
doce em tua sobremesa,
água ao teu sedento andarilho,
prece em tua igreja,
esmola ao teu mendigo.
É maldita
e me dita:
cachaça que te embriaga,
asas aos teus vôos,
colchão em tua queda
e luz em tuas trevas,
a chama no gelo do teu inverno,
chuva e gente em teu deserto.
Que fome maldita
que me dita:
do bebê - o choro,
da mãe - o consolo.
O amigo de rua,
a primeira mulher nua.
Ela é maldita
e me dita:
ás vezes avalanche,
vampira em teu sangue,
tiro em teu peito,
remédio ou veneno.
O cheiro da cocaína
ou o perfume das margaridas.
Minha fome maldita
me dita:
escudo na guerra,
prostituta, pernas abertas.
O dinheiro do lutador,
o Oscar do teu ator.
E a fome maldita
dita
assim:
tua sombra, teu vulto,
terra em teu túmulo,
parágrafo em tua entrada,
vírgula em tuas pausas,
ponto no fim.
É maldita
e me dita
Assim...
domingo, 30 de março de 2008
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