domingo, 30 de março de 2008

Hoje, o dia

Hoje, o dia
Cris Sousil 11/03/99

Hoje é um daqueles dias
em que eu acordei
desenhando teus traços
nas paredes do quarto.
Em que até a poluição do centro
une-se em formato de teu rosto
e o barulho das buzinas e freadas dos carros
lembram tua voz e o teu canto.
Hoje é um daqueles dias...
Se faz sol eu sinto o teu fogo
nas manhãs em que você despertava invadindo o meu corpo,
se faz frio penso em teus braços
envolvendo e sufocando-me em abraços,
se chove vejo tuas lágrimas
e ouço teus gritos se há trovoadas
mas se é a brisa que venta suave,
sinto-a feito cócegas em minha pele
tal qual sua respiração ofegante
sussurrando após aquela noites.
Se a lua brilha e o céu estende seu manto azul - estrelado
eu vejo-nos sentados
na sacada da sala de estar
com uma taça cheia de vinho,
celebrando em grande estilo
a arte de amar.
Hoje é um daqueles dias
em que a papelada do escritório me ataca
e as letras se embaralham, escrevendo teu nome
e cada vez que o telefone toca
é a tua voz que me fala
em outra que eu nem sei de quem é
e a melodia do rádio
é a tua cantoria matutina
me colocando em pé.
Hoje, o dia,
volto caminhando para casa,
acendo todas as luzes,
abro todas as portas,
encho a taça
e brindo sozinha,
mais um dia.
Após o banho suave,
mergulho na cama,
os braços estendem-se sobre o colchão
em vão.
Hoje é um daqueles dias
em que se falece mais um dia
junto a ti
e você não,
você não falece em mim.

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