Encarnações
Cris Sousil 24.01.97
Pertenci a uma raça antiga,
índios selvagens,
cavalgantes, animais velozes,
ferozes
defensores da terra,
amantes da lua
e da fêmea nua
Aqueci-me em fogueiras,
dormi em cabanas, verdes telhas,
pintei o corpo,
beijei o fogo,
me dei à homem branco
Pertenci a um bando,
pássaros azuis
buscando luz.
Asas douradas,
longas pousadas,
voei mais alto,
voei contrário.
Pertenci a uma alcatéia,
lobos cantores,
alta madrugada,
busquei a platéia,
em fuga armada
virei bela,
engoli a fera.
Pertenci ao convento,
rezei baixo a panos,
castigaram-me ao pranto.
Andei ao léu,
parei em bordel,
virgem prostituta,
virgem em disputa.
Pertenci a legião de vampiros,
noites sangrentas,
fome nojenta,
fiz esforço,
neguei pescoço,
esfomeada e sedenta,
virei lenda.
Pertenci ao circo,
do picadeiro, a farsa,
na estrada comendo fumaça,
diante dos olhos crianças
nuvens choveram lembranças
chorei sem graça
Pertenci ao trono, princesa,
escrava da realeza,
cega à obediência,
o coração sambou ao plebeu,
expulsos, Julieta e Romeu,
noves meses, a herança nasceu
(e o sol renasceu).
Pertenci a polícia,
tiros e tiros, perícia,
bala no peito,
ganhei desrespeito,
jogado ao canto,
salário pouco,
bandido novo.
Pertenci a orquestra de anjos,
guitarrista louco
desafinando o coro,
varrendo o choro.
Pertenci...
chutei regras
quebrei pedras
vivi...
domingo, 30 de março de 2008
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