segunda-feira, 31 de março de 2008

Introdução

Comecei a escrever aos 12 anos, fiz alguns cursos, conheci poetas novos, li poetas consagrados, aprendi coisas novas, desaprendi outras tantas, tenho tanto tanto tanto mais para aprender e desaprender.

Hoje, ao reler os antigos poemas, amo alguns trechos, detesto outros. Creio que o ideal seria refazer muita coisa, agarrando os trechos que me encantam e me desfazendo dos demais, mas... preciso de tempo, ânimo e disciplina...rs.

Assim que os deixo aqui, exatamente como foram paridos, com as partes que eu gosto e as outras que, de alguma forma, abomino.

Apresento-lhes um pouco desses poemas escritos em português num período de 5 anos, (mais ou menos) e, originalmente, divididos em diferentes “livros”: Vôos, Sombras e Cantos d’alma*.

Os escritos anteriores a estes seguem em minha gaveta, já que hoje os veja como meras confidências de uma adolescente aspirante, talvez, à poetisa.

Os posteriores podem ser encontrados nos outros blogs, porém, estão quase todos escritos em espanhol, ainda que recheados de uma melodia tipicamente brasileira.

Começo este blog com uma seleção dos poemas que mais gosto.

* sobre os livros

Na verdade não tenho nenhum livro (somente meu) publicado, mas tenho a mania de separar os poemas por etapas e nomeio cada uma delas, desse modo, convertem-se, para mim, em “livros”.

domingo, 30 de março de 2008

Corpo



Corpo
Cris Sousil 02/09/99

Refúgio...
Em todas as ondas
Na maré de tua boca
No desenho de teu peito
No jardim de pêlos
Não há semáforos
Não há fumaça de carros
Não há telefone histérico
Nem TV estéreo
Há apenas o mistério
No teu olhar quase sério
Há chama sem vela
No enlaçamento das pernas
Há um mago
Em cada abraço
Encontro abrigo
Até mesmo em teu umbigo
Eu ressuscito
Em teu sorriso
Fogem todos os lobos
Quando pouso
Em teu corpo
Morrem todos os monstros
Quando somos
Um só ponto
Um único porto
Um só corpo.

Sinfonias em um som só



Sinfonias em um som só
Cris Sousil 28/09/99

Meu solo sombreado
pelo soro de seu sol,
seu sono sonegado
pelos solados de meus sonhos,
sopramos sonetos,
somamos o sacrilégio
de soprarmos esse sortilégio,
sósia e sócio,
seu sorriso, meu socorro assíduo,
soluço seu sabor,
sou soberana em seu solo,
você, solene em meu sótão,
saciamo-nos nesse eclipse solar,
somos e soamos
sinfonias em um som só.

Amém

Amém
Cris Sousil 15/10/99

Despertei deserto
Tatuando em meu teto
Fotos, recados e seus traços
Em seu sorriso cigano
Notas de um carnaval baiano
Vítima da fome dos vampiros
Eu vento fogo, eu te vomito
Caço o pó no copo de café
Você cavalga em meu corpo de mulher
Há algemas em meu pulso
Há brechas nesse escudo
Há soldados em guerra
Por toda a minha terra
Nessa madrugada suburbana
Há passos de fantasmas
Há lamas, lágrimas e lâminas
E uma estaca jogada na escada
E uma escada jogada na estaca
Rezo
Rezo por teus olhos angelicais
Rezo por teus beijos matinais
Rezo pelo fim dos vendavais
Movo os murais
Sopro os sinais
Tiro o meu Jesus da cruz
Que seja margem em meu castelo de areia
Ou cocaína em minhas veias
Que naufrague em meu mar de sereias
Que sacie-me nessa santa ou satânica ceia
Amém.

Bom dia

Bom dia
Cris Sousil 21/10/99

Acordei
Te vi, travesseiro
Te vi, espelho
Te vi, chuveiro
Te vi, faceiro
Toureiro de meu amor vermelho
Pedreiro em meu seleiro
Acordei
Te vi inteiro
Vento e veleiro
Acordei teu cheiro
Acordei espelho
Desse amor vermelho
Te vi
Te acordei em mim.

Quem sou?


Quem sou?
Cris Sousil 27/03/00

Gigante e anã
Roma e romã
O barco que vai ao longe
O cálice em que bebe o monge
Sou tão sol e tão lua
Transparente e obscura
Esconde tesouros e pragas
De séculos atrás
Sou templo e prostíbulo
Lobo e cordeiro
Outono em fevereiro
Eu sou um az
Sou de copas...
Eu sou a tropa
Que venceu a guerra
Eu sou a terra
E sou o céu
Eu sou o réu
Enforcado em arenas
Sou grão de areia...
Eu sou sopro e terremoto
Sou inferno e paraíso
Sou o riso do incrédulo
E o incerto do riso
Sou um risco ao teu juízo.
Eu sou o princípio de qualquer fim
Ou o fim de qualquer principio
Eu sou um mapa borrado em latim
Sou a lâmpada de Aladim
Sou Joana D’Arc do século XX
Sou margem, mártir e martírio
Num único drink
Eu sou a rosa e o espinho
O apocalipse
Pintado em rosa pink
E o querubim
Por trás da tatuagem e do piercing
Sou o sustento
Sou o silêncio
Eu sou a fonte inesgotável
Do nada
Eu sou a fome insaciável
Do tudo
A gota do inalcançável
A inalcançável gota
Eu sou as asas
De minhas asas
Censuradas.

Maça verde


Maça verde
Cris Sousil 16.06.95

Metades cortadas,
nas ondas lançadas,
podridão do caroço,
aborto do fruto.
O suave é pesado;
o branco, acinzentado;
o doce, amargo;
o verde sem cor,
e a picada da cobra
é mar de pecado
na tentação do amor.